A CAMINHADA
Quando recebi o agendamento de hoje, marcado para a “Ilha de Joaneiro”, na Zona Norte do Recife, entrei em contato com a voluntária e disse-lhe simplesmente: “pow! pow! pow! pow!” (onomatopeias de tiros) insinuando que seria um risco expor meu leiaute de gringo bilionário por lá – até porque, com minha cara de rico, negar dinheiro para um pedinte adolescente pode soar como uma ofensa/soberba/discriminação/demonstração de poder opressivo onipotente-burguês, e daí para levar uma facadinha básica é um passo de ema, lá e lô. Mas, movido pela fé que me faz otimista demais, pedi as coordenadas, vesti minhas piores roupas rasgadas e calcei um tênis furado para ir ao endereço fornecido pela jornalista Catharina Freitas: “praticamente embaixo do viaduto da João de Barros”. E lá estava eu, pontualmente, às 6h, dando voltas numa pracinha malassombrada (repleta de malas, sem sombra de dúvidas – traduzindo do pernambuquês) na bocada errada: a comunidade de Santo Amaro. A cada volta que eu dava, aparecia um menino a mais para assistir ao espetáculo do gringo andande de olhos esbugalhados. Até que, passados 18 minutos sem perceber a presença da voluntária, perguntei a um transeunte se ali era a Ilha de Joaneiro. Obtive a informação de que a minha acompanhante havia errado “apenas” de viaduto, quando explicou o endereço. Corri para o elevado da Avenida Norte e lá estava ela, caminhando alegremente com seu shortinho fluorescente de abadá baiano. Nos cumprimentamos com o velho “estás onde?”, típica pergunta de jornalista para acompanhar o vai e vem do mercado. Falamos de trabalho, carnaval, especulação imobiliária, a mansão de Seu Gonzaga, pais (dela), filhos (meus) e Espírito Santo. Retirei da cabeça toda a carga de preconceito que havia conferido à Ilha de Joaneiro, pois achei um lugar agradável e limpo. Perambulamos até por umas ruas próximas, para não ficar somente naquela de dar voltas de 500 metros.
Atividade física concluída com sucesso!!!! Foram 5,67 km na companhia da voluntária, mais 1 km na favela de Santo Amaro, totalizando 6,67 km!!!! Valeu, Catharina!!!!!
COMO ANDA A ALIMENTAÇÃO?
Lembram de Wolverine, aquele meu amigo que foi testemunha ocular da maior queda da paróquia das Graças, no bloco carnavalesco do qual participei no último domingo? pois bem, o camarada me convidou para participar de uma singela tertúlia, ontem à noite, em comemoração ao aniversário do Instituto Maximiniano Campos (IMC), no Poço da Panela. Para minha grata surpresa, havia um grupo de choro/samba/pagode, e uísque 12 anos. Lamentavelmente, eu era o único penetra da confraternização – o que me deixou ligeiramente desenturmado. Mas, como a minha vida é feita de caminhadas, fiquei só no “keep walking black label”, mantendo o compromisso de não ultrapassar a terceira dose (360 calorias) e saí de lá louquinho da silva, cantarolando Gonzaguinha. Voltamos de ônibus, eu e Wolve, curtindo as duas viagens (a do ônibus e a nossa, claro). Ontem dormi como um bebê.
VOCÊ NÃO SABE OS PASSOS QUE DEI PRA CHEGAR ATÉ AQUI…
“Quando a bebida entra, a verdade sai”, já dizia o poeta Branchur. Ao pedir ao grupo de samba para tocar “O que é, o que é” eu estava na vibe flash-back do ano-novo que passei em Londres, no já distante réveillon de 2004/2005, quando passei um período sabático de cinco semanas por lá. Na ocasião, eu havia prometido a minha mulher que não ficaria de graça em solo estrangeiro, mas para aliviar a dor da saudade dela e das crinças acabei encarando uma iguaria exótica de cunho lombrístico-alucinógeno vendida legalmente sem restrição na terra da rainha Elizabeth: os cogumelos mágicos (magic mushrooms), adquiridos numa lojinha no bairro de Camdem Town – ocasião em que encontrei uma celebridade jornalística-global.
Para encurtar a minha triste e breve experiência no campo das drogas londrinas, fiquei tão louco quando comi os tais cogumelos misturados ao creme de avelãs Nutella que, dentro do metrô superlotado a caminho do Big Ben, soltei a voz: “EU FICO, COM A PUREZA DA RESPOSTA DAS CRIANÇAS: É A VIDA, É BONITA E É BONITAAAAAAA!!!!!!”. Apesar da superlotação do metrô, dezenas de gringos abriram uma clareira ao meu redor, acotovelando-se para escapar daquele que eles provavelmente achavam ser um homem-bomba cantando seu mantra de despedida antes de apertar o botão. Fez-se um silêncio que demorou o tempo exato do compasso da música, até que o vagão cantou em coro: “Viveeeeeer e não ter a vergonha de ser felizzz! cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz…”. Pois é, em Londres tem brasileiro pra caramba, mas eles só se manifestam se você vestir a camisa da Seleção ou puxar uma música dessa no metrô. Foi lindo! um momento mágico, sem dúvida. Mas depois disso, não senti mais a asinha, a perninha, o bracinho. O trauma foi tão grande que nunca mais comi estrogonofe nem filé ao molho madeira, porque sei que levam cogumelo. E foi assim que eu endoidei engordei. Mhuahahahahahaha!
Caco me disse que estava “trocando dinheiro” na loja onde comprei os cogumelos
O endereço errado foi péssimo, mas a caminhada foi ótima. E olhe que nem mesmo lá em Santo Amaro aconteceu nada com vc, Mandrey. "Fé na vida, fé no homem…" kkkk. 😉 Bjo, Caty.