Dia 79/365

A CAMINHADA

Acreditem se quiser: o voluntário de hoje é meu irmão de sangue, filho da mesma mãe (a voluntária do Dia 63). Ei-lo: Válter Júnior, negociante (às vezes vendedor, às vezes empresário, mas sempre trabalhando e trabalhando!), malhador inveterado, apreciador das boas marcas, aventureiro, motociclista, divertido, simpático e desenrolado na oratória. Éramos três, mas com a perda da batalha da nossa irmã caçula para o câncer no ano passado, agora ele é meu único irmão. Seis anos mais velho do que eu, logo que balbuciei as primeiras palavras chamei-o de UA (minha irmã também adotou esse apelido a vida inteira), e assim ficou até hoje. Ua era o meu ídolo na infância, mas sempre se manteve a uma distância “segura” de não se apegar muito aos irmãos mais novos, talvez por ciúme ou pra não perder tempo com pirralhas (eu vejo meu filho mais velho fazendo isso com o irmão do meio, então acho que é coisa de irmão). Mesmo escanteado, eu desfrutei de suas ótimas performances “artísticas” em shows familiares para impressionar os parentes, geralmente nas festas natalinas, quando todos estavam presentes. Ele misturava seu lado aventureiro com o de motociclista e fazia manobras radicais com sua moto, na frente da casa da minha avó, para a euforia da vizinhança. Era o rei na manobra “Babalu”, freando a moto até empinar verticalmente a traseira e depois girá-la 180 graus e estacioná-la no sentido contrário (a moto parecia desenhar um arco, no ar).  A galera aplaudia, vovó e mainha passavam mal, mas aí Ua soltava um “Uhúúú!!!” e saía pilotando por uns 300 metros com a roda dianteira empinada, enquanto a criançada delirava. Outra performance inesquecível aconteceu nos anos 1980’s quando ele e meu tio caçula (um ano mais velho que ele, somente) foram para um aniversário “cabeça” em que viram pela primeira vez um grupo de gays dançando animadamente na pista de dança. Naquela época, em que os direitos e aceitação social dos  GLBT ainda engatinhavam, achávamos os gays engraçados e caricatos (culpa d’Os Trapalhões, que assim nos ensinaram). E então meu irmão adaptou a “Dança do Frango”, imitando os passos que ele viu na festa. Era a coisa mais escrotamente engraçada que eu já vi na minha vida! tanto que os parentes sempre pediam para ele fazer a Dança do Frango nas confraternizações familiares. Tempo bom que não volta mais… Mhuahahahhahahaha.
Eu e meu irmão somos muito diferentes esteticamente (ele é índio, eu sou branco; ele é forte eu sou “forte”; ele pisa pra dentro (supinação), eu piso pra fora (pronação), mas trazemos no DNA (ou na convivência da infância, talvez) a característica de “ser a festa da festa”. Ou seja, quando estamos numa farra, sabemos entreter a galera – cada um a seu modo, mas com a mesma risada.
Foi massa a caminhada de hoje por dois motivos: posso garantir-lhes que esse foi o nosso primeiro diálogo de uma hora ininterrupta, sem a intervenção de mainha. Eu falando com ele, ele me escutando e interagindo comigo, completamente focados um no outro. A outra coisa boa que percebi é que apesar de todas as nossas diferenças, agora na quase meia-idade para ambos (37-43) as distâncias estão mais curtas e já falamos a mesma língua.  
Atividade física concluída com uma sucessão de sucessos! 6,3 km na orla de Boa Viagem. E pra completar, ele ainda me presenteou com duas bermudas novas. Valeu, Ua!!! Ou melhor, valeu BROTHER!!!!!


 Bánhaceps e Bíceps, no calçadão de Boa Viagem.
Quem encontrar alguma semelhança, comente!

COMO ANDA A ALIMENTAÇÃO?

Hoje comi a barrinha de proteína que a voluntária de ontem havia me dado. Energia que deu gosto!!!! Na volta, não resisti e repeti rigorosamente o café-da-manhã de ontem, com a cartola de banana comprida made in Barreiros. 



VOCÊ NÃO SABE OS PASSOS QUE DEI PRA CHEGAR ATÉ AQUI…

De certa forma eu sempre entendi que meu irmão tinha uma vergonhazinha alheia da minha presença junto ao seu círculo de amigos porque eu sempre fui bem gordinho, enquanto ele e meus tios maternos (não são Os Insaciáveis, hein!) eram malhadores profissionais desde a adolescência. Eu lembro que o quintal de vovó era cheio de marombas, halteres, pesinhos, tatames. Mas enquanto meu irmão e meus tios malhavam, eu lia gibis e livros ou assistia televisão. E foi assim que eu engordei! kkkkkkkkkkk
Quando eu tinha uns 8 anos, ganhei uma Brandani Cross, a primeira bicicleta com amortecedores de molas, imitando os das motos. Ua pirou na bike e ficou mais meu amigo, para poder usá-la com meu consentimento. O problema é que a bicicleta tinha rodinhas, e para usá-la ele ia ter que me ensinar a andar sem rodinhas. Sua estratégia foi usar o medo, que move montanhas: Estávamos pedalando (eu na minha, ele na dele) pela calçada da Avenida Mascarenhas de Moraes, quando ele fez uma cara de terror e disse “eita porra, tem um ladrão vindo ali pra pegar tua bicicleta!!! a gente vai ter que pedalar bem rápido pra fugir!!!”. Eu já estava quase começando a chorar quando ele sacou uma ferramenta do bolso e avisou que ia ter que retirar as rodinhas, senão a gente não ia conseguir escapar. Foram segundos de aflição em que não ousei olhar pra trás. E, sem rodinhas, ele disse “vou lhe dar um empurrão bem forte e você pedala sem parar até fugir do ladrão. Não caia!”. E com aquele empurrão, começava ali a minha vida sobre duas rodas.
Um dia, Ua me levou para um passeio ciclístico que começava em Boa Viagem e terminava na praça do Derby. Foi um dos momentos mais felizes da minha infância, apesar de o passeio ciclístico ter nos deixado exaustos (principalmente a ele, que teve que puxar minha bike pelo guidom, porque eu já não tinha forças para pedalar, na volta pra casa). 


Este post tem 2 comentários

  1. Helena Amaral

    Grande dia !
    Caminhada afetiva, boas lembranças!
    E a cartola com afeto, sem açúcar ( na verdade nem precisa mesmo….as bananas barreirenses se garantem….) coroou o dia…
    Aguarde os beijus de Pedro…..

  2. Helena Amaral

    Essas histórias de irmãos são sempre legais, apesar dos pesares….
    E, contadas por esse narrador se tornam mais que prazeirosas…
    Que bom que as bananas barreirenses estão sendo comidas com muito afeto… e sem açúcar…( afinal, elas são docinhas por natureza..)
    Fico imaginando você degustando os famosos beijus de Pedro do beiju….
    Um por dia, com certeza, não vai fazer mal……
    Abração!

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