A CAMINHADA
Enfim, tive a oportunidade de caminhar com meu pai: Ronaldo Amorim Leandro, vitorioso marqueteiro político aposentado (pelo menos enquanto não receber uma nova proposta de trabalho), é um homem simples de hábitos humildes, como se nunca tivesse saído do interior. Natural de Canhotinho(PE), por coincidência escreve com a mão esquerda. É o ancião da Família Bullying Feliz, no sentido mais respeitoso da palavra: a memória viva dos fatos que marcaram a trajetória dos pais e irmãos (Tio Hipocondríaco, Tio Fazendeiro, Tia Marta e Tia Louca), nosso maior referencial futebolístico (torcedor do Sport) e ótimo contador de causos. Conversar com meu pai é ser conversado, pois ele tem assuntos diversos que se co-relacionam e compõem uma história sem fim, mas tão bem contada e repleta de trechos engraçados que não cansamos de escutar. Aliás, minha verve humorística tem 70% do DNA do meu pai e 30% do DNA do saudoso Vovô Ary (que é pai da minha mãe). Um amigo meu certa vez visitou a casa de praia da Família Bullying Feliz e disse que parecia aquele filme Quero ser John Malcovich, “só que em vez de Jonh Malcovich, todas as pessoas eram iguais a Mandrey”, palavras do voluntário do Dia 26 desta Dieta da Rede Social. Pois é, mas tomo a liberdade de corrigir a informação, para atestar que lá em casa todo mundo é Ronaldo.
Este ano-novo foi o primeiro sem a minha irmã, Adriana, mais uma vítima do câncer que se foi em 26 de julho. Meu pai esteve ao seu lado até o suspiro final, por isso cita seu nome pelo menos uma vez em cada conversa – seja qual for o assunto. Quando estamos juntos, eu e ele, a presença dela é mais forte em meu coração. O desafio do velho agora é terminar a criação do filho dela, Caio, que já convive diariamente com ele desde o nascimento, há 13 anos.
Na nossa caminhada de hoje meu pai me contou sobre histórias familiares, me atualizou sobre a vida dos seus amigos mais próximos, comentou sobre algumas fragilidades de saúde e quando percebi, já tínhamos caminhado 6,2 km em 1h40, na faixa de terra reduzida pela maré cheia.
Atividade física concluída com sucesso!!!!! Obrigado, pai!!!!!
COMO ANDA A ALIMENTAÇÃO?
Tio Fazendeiro trouxe de Garanhuns um queijo de coalho fuderosamente maravilhoso, produzido com o leite da sua Fazendinha Bom Jesus. Ou melhor, trouxe UNS vinte quilinhos de queijo. Hoje, encarei duas fatias fritas numa ponta de manteiga para complementar duas rodelinhas de inhame, de café-da-manhã. No almoço, finalmente uma refeição caseira, com um feijão macassa, galinha guisada, arroz branco e uma saladinha paia. De sobremesa, um delicioso sacolé de maracujaspartame. No lanchinho da tarde – que consumo enquanto digito este texto, duas fatias generosas de abacaxi para acompanhar um quartinho de cachaça mineira diet-orgânica-que-quando-eu-tomo-me-faz-acreditar-que-estou-mais-magro.
VOCÊ NÃO SABE OS PASSOS QUE DEI PRA CHEGAR ATÉ AQUI…
Antes de sair para a caminhada, às 8h, procurei pelas pencas de banana-prata que o Tio Fazendeiro trouxe de sua propriedade, pois essa fruta é meu combustível habitual para me ajudar a continuar andando. Porém, em vez da banana crua, encontrei um panelaço de doce-de-banana com cravo-da-índia, feito sob orientação de Tia Marta, do jeito que minha finada Vovó Rosário ensinou. Rezei o terço, enchi meio copo americano e tracei o equivalente a duas bananas pequenas, sem a calda. Caminhei como nunca, pela areia molhada e às vezes profunda. Ainda bem que quando voltei não tinha mais nem a alma do doce. Para compensar a extravagância, lavei à mão dois lençóis de casal e dois de solteiro, mais umas roupas minhas e das crianças (minha cara-metade voltou para o Recife com nosso rebento do meio, e eu fiquei com os outros dois, por isso tenho que cuidar deles e do colchão mijado pela caçulinha).
A caminhada de hoje será, sem dúvida, a mais importante de todas as 365…..
Coisa boa ouvir histórias contadas pelos mais velhos…
Saúde para o Seu Ronaldo e muita força para continuar orientando o neto…